A Vida Extraterrestre: Estamos Cada Vez Mais Próximos de "Descobrir" Vida em Outros Mundos



Por Guilherme Bitencourt


Recordo-me da menção no Alcorão e também nas Epístolas Reveladas por Bahá'u'lláh, como a Lawh-I-Ahmad (Epístola de Ahmad), da palavra 'alam (عالم) em árabe, traduzida tanto como mundo ou universo. A palavra em árabe, tanto no Alcorão como nas Escrituras Baha'ís em árabe, é semelhante à palavra olam (עולם‎) em hebraico, de acordo com a Torá ou Bíblia Hebraica.

A palavra 'alam no plural é alamin, tal como aparece no final da Epístola de Ahmad onde diz, "alhamdulillah rabbil 'alamin" (الْحَمْدُ لِلَّهِ رَبِّ الْعَالَمِينَ), semelhante ao versículo de Abertura do Alcorão, onde logo no começo diz as mesmas palavras que significam: "Louvores a Deus, Senhor de todos os mundos". Repare que a menção não é 'alam, mas alamin (عالمين) no plural.

Mencionar 'mundos' no plural não pode significar algo em relação à vida extraterrestre, com seres vivendo em outros mundos, habitando estrelas e vivendo até mesmo em galáxias distantes da nossa?

Vejamos o seguinte dito de Imam Ali (600-661 d.c) encontrado no Satinat ul-Bihar, vol. 3, página 574:

“Essas estrelas que estão nos céus têm cidades, muito parecidas com as cidades da Terra; cada uma de suas cidades está conectada por uma coluna de luz com outras cidades.”

Os extraterrestres não aparecem apenas uma vez na tradição Islâmica xiita, mas o assunto se repete em um diálogo do 6º Imam xiita, Jafar As-Sadiq (669-765 d.c), com um seguidor chamado Jaber em Maghz-e Motafakker Jehan Shi'ah, Kawkab 'Ali Mirza, página 134:

Jaber perguntou: "Estão vossos seres humanos nas estrelas? Vós acabastes de dizer que cada estrela é uma coleção de corpos celestes."

Imam Jafar Sadeq respondeu: "Eu não posso dizer que há seres humanos em outros mundos, mas posso dizer que existem seres vivos, a quem não podemos ver por causa da grande distância entre vós."

Os Santos Imames disseram claramente que existem civilizações em outros planetas, mas como muitos ahadith não transmitem determinada segurança, devido às disputas políticas e religiosas entre as seitas do passado, fiquei muito tempo em dúvida sobre sua autenticidade.

No entanto, Bahá'u'lláh trouxe-me a certeza Revelada por Deus, através de Sua caneta imaculada e para toda a humanidade nessa época, respondendo a essa questão sem deixar um rastro de dúvidas:

“Tú me perguntaste sobre a natureza das esferas celestiais. Afim de se compreender sua natureza, seria mister inquirir o significado das alusões que os Livros de antanho fazem aos céus e às esferas celestiais, e descobrir o caráter de sua relação a este mundo físico e a influência que sobre eles exercem. Todo coração maravilha-se diante de tão deslumbrante tema, e todas mentes se confundem, por causa dos seus mistérios. Somente Deus pode penetrar sua significação. Os homens eruditos que calcularam em alguns milhares de anos a vida desta terra, deixaram de considerar, por todo o longo período de sua observação, tanto o número com a idade dos demais planetas. Considera, além disso, as múltiplas divergências resultantes das teorias expostas por esses homens. Sabe tu que cada estrela fixa tem seus planetas, e cada planeta suas próprias criaturas, cujo número nenhum homem pode computar.” [Seleção dos Escritos de Baha’u’lláh, LXXXII]

Bahá'u'lláh confirma o que foi dito no hadith de Imam Ali sobre os mundos, tão vastos que só Deus sabe o número exato deles, e quanto mais a ciência avança, cada vez mais próximos estamos de provar a existência de vida inteligente fora do nosso planeta.

De acordo com o diretor da iniciativa científica Breakthrough Listen, da Universidade da Califórnia, Andrew Siemion, estamos vivendo um momento ímpar na exploração do universo. Em uma entrevista à BBC, ele revelou que estamos prestes a empreender a pesquisa mais abrangente de todo o céu em busca de inteligência extraterrestre, uma busca que nunca antes foi tão promissora. Quando olhamos para o céu noturno, nos perguntamos se há alguém lá fora. Agora, graças aos avanços científicos, temos a capacidade de finalmente responder a essa pergunta. Uma descoberta nessa área seria mais do que uma conquista científica; poderia ser considerada uma das maiores revelações na história da humanidade.

Essa empolgante jornada pelo cosmos, em busca de respostas sobre a vida fora do nosso planeta, não está dissociada das crenças expressas nas Escrituras Baha'ís. Essa Fé, que destaca a unidade da humanidade e a importância da busca pelo conhecimento e da harmonia entre a ciência e a espiritualidade, permite-nos explorar com curiosidade e esperança as maravilhas que o universo pode nos revelar. Nas Escrituras Baha'ís, há indicações de que as diversas criações de Deus podem estar espalhadas por mundos além do nosso, ampliando nossa compreensão do propósito divino e da complexidade da existência.

Assim, à medida que a ciência amplia seus horizontes na busca por vida extraterrestre, nós, como seguidores da Fé Baha'í, nos alinhamos a essa busca por conhecimento e entendimento do universo que nos cerca. Isso nos leva a considerar que, como afirma o diretor Andrew Siemion, está prestes a escrever um novo capítulo na história da exploração espacial, um capítulo que pode muito bem ter paralelos nas revelações espirituais das Escrituras Baha'ís, pois ambos podem nos aproximar da compreensão da vastidão da criação de Deus.

Uma Reflexão através do Barro para a Humanidade

 


Por Guilherme Bitencourt

Segundo a mitologia suméria datada de 2000 a.C., emerge a figura de Enki Du, um ser selvagem esculpido das próprias entranhas da terra, que escolheu habitar harmoniosamente com as criaturas da floresta. Enki Du, à semelhança do icônico Adão bíblico, desfrutava de um dom peculiar: a comunicação fluente com os animais. Todavia, os caminhos do destino tomaram um novo rumo quando uma sacerdotisa do templo de Ishtar cruzou seu caminho, lançando um encanto irresistível. Após um encontro de paixão ardente, Enki Du perdeu sua habilidade de diálogo com as bestas e encontrou seu refúgio nas entranhas da cidade. Enquanto Adão bíblico foi expulso do idílico Jardim do Éden, Enki Du se despediu da exuberante floresta. Um, cedeu à tentação da fruta proibida, o outro, aos encantos de uma sacerdotisa. Esses paralelos, entretanto, são apenas a ponta do iceberg.

A mitologia dos antigos egípcios, cuja riqueza simbólica é inegável, também nos presenteia com referências ao barro e à argila, por meio da figura divina de Khnun, conhecido como Quenúbis na tradição grega. Khnun, o criador divino, esculpia seres de argila na roda do oleiro, concedendo-lhes vida ao inseri-los no seio materno.

As terras africanas ecoam a história do barro em suas mitologias. Entre os iorubás e os daomeanos, encontramos narrativas que ressoam com o mito de Nanã. Ela, a Senhora da Vida, associada às águas paradas e à lama dos pântanos, presente na criação do homem. Em sua jornada, Nanã mergulhou até o fundo de um lago e retirou a lama que, entregue a Oxalá, serviu como matéria-prima para a moldagem da humanidade. Assim, o sopro de Olorum infundiu a vida naquele que fora esculpido do barro.

No panteão grego, surge o cativante mito de Prometeu. Os irmãos Prometeu e Epimeteu, incumbidos por Zeus de modelar os seres vivos e o homem a partir do barro, desencadeiam uma revolução ao roubar o fogo do Olimpo e entregá-lo aos homens. O gesto audacioso de Prometeu conferiu à humanidade superioridade sobre os outros seres vivos. Contudo, esse ato não passou despercebido aos olhos de Zeus, que o condenou a um suplício incessante, amarrando-o a uma rocha e expondo seu fígado para ser diariamente devorado por uma águia.

A leitura dessas narrativas mitológicas, provenientes de diversas culturas e crenças, revela uma conexão profunda, ainda que simbólica, com a criação a partir do barro. O entendimento precisa transcender a interpretação literal para abraçar o simbolismo inerente a essas histórias. O eminente psicólogo Carl Gustav Jung, em sua obra "Arquétipos do Inconsciente Coletivo," explora o simbolismo como uma chave para a compreensão:

"O homem primitivo não busca explicações objetivas do óbvio; em vez disso, sua alma inconsciente anseia por interpretar experiências sensoriais externas como eventos da alma. Para o primitivo, a observação do nascer e do pôr do sol não é meramente um fenômeno natural, mas um evento espiritual, onde o Sol encarna o destino de um deus ou herói que reside, em última instância, na alma humana."

Jung argumenta que essa projeção persistiu ao longo dos milênios e só recentemente começou a se desconectar de suas origens externas. Assim, as parábolas foram adotadas como veículos de ensinamento, como exemplificado por Jesus. Segundo a Bíblia, quando questionado por seus discípulos sobre o uso de parábolas, Jesus respondeu:

"Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado; Porque àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem." 

 Mateus 13:11-13

A explicação, segundo alguns comentaristas bíblicos, é que o estado espiritual do povo naquela época tornava obscura sua fé, e as parábolas facilitavam a compreensão das verdades espirituais. Isso está em harmonia com a observação de Jung sobre o homem primitivo, que não buscava explicações objetivas, mas sim interpretações simbólicas.

Mencionando Jesus e os judeus, não podemos ignorar o ponto de vista judaico sobre interpretações simbólicas. Moshé Ben Maimon, também conhecido como Maimônides, explica que, apesar da importância da criação conforme o Antigo Testamento, nossa capacidade de compreender tais conceitos é limitada. Em suas palavras:

"Por outro lado, a questão da Criação é muito importante, por outro lado, nossa capacidade de entender tais conceitos é muito limitada. (...) Foi descrito em metáforas, para que as massas pudessem entender a Criação de acordo com a sua capacidade mental, enquanto os cultos entenderiam de uma maneira diferente."

O renomado Rabino Abraham Ibn Ezrah complementa essa ideia, afirmando:

"Se houver algo na Torá (Antigo Testamento) que contradiz a razão (...) então, aqui, devemos procurar a solução numa interpretação figurativa..."

Ambos os rabinos reconhecem a necessidade e a importância da interpretação figurativa, semelhante ao exemplo de Jesus, que transmitia a Revelação em forma de parábolas para que as massas pudessem compreender.

No tocante ao Islã, o Alcorão também menciona a criação de Adão a partir do barro, mas sob uma perspectiva simbólica. Diferentemente de verso corânico que menciona a criação de todos os seres vivos a partir da água:

"Deus criou todas as criaturas [vivas] da água, e delas são as que se movem sobre as barrigas, e delas são as que andam sobre duas pernas, e delas são as que andam em quatro [...]." 

 Alcorão 24:45

Essa visão encontra eco na ciência moderna, onde se reconhece que a vida na Terra se originou da água, respaldada por teorias como a do cientista soviético Alexander Oparin e o biólogo inglês J.B.S Haldane.

Portanto, a compreensão dessas histórias como simbólicas, e não literais, é fundamental para reconciliar as crenças religiosas com o conhecimento científico. Como afirma Baha'u'lláh, o fundador da Fé Bahá'í:

"Sabe tu, verdadeiramente, que o propósito fundamental de todos esses termos simbólicos e alusões abstrusas que emanam dos Reveladores da santa Causa de Deus, é a provação dos povos do mundo; para que, deste modo, o terreno dos corações puros e iluminados se distinga do solo estéril e perecedor."

   Kitab-I-Iqan, pág.34

Assim, a interpretação simbólica é uma ferramenta crucial para compreender os ensinamentos religiosos e reconciliá-los com os avanços da ciência. Ao explorar o simbolismo nas narrativas mitológicas e religiosas, podemos vislumbrar uma rica tapeçaria de sabedoria que transcende as fronteiras culturais e temporais.

Alimentos e Agricultura

 


Folhetos de Warwick

Por Warwick Bahá'í Bookshop 2001

 

A Importância da Agricultura

"A base fundamental da comunidade é a agricultura."

Afirma claramente nas escrituras bahá'ís que a agricultura é a indústria mais importante. Essa verdade básica, que muitas vezes é esquecida, é óbvia porque, sem comida suficiente, morreríamos de fome. Menos óbvio para quem faz parte de uma civilização industrial, é o fato de ser a base fundamental da economia de um país.

"O comércio, a indústria, a agricultura e os assuntos gerais do país estão todos intimamente ligados. Se um deles sofre um abuso, o prejuízo atinge a massa."

"Atenção especial deve ser dada à agricultura ... inquestionavelmente ela precede as outras."

Um exemplo simples é a conexão entre a agricultura e o turismo. As práticas agrícolas afetam a atratividade da paisagem e, portanto, encorajam ou desencorajam os visitantes.

Se a economia da agricultura for equilibrada e bem-sucedida, o resto virá.

 

Avanços agrícolas

A habilidade e o cuidado do fazendeiro e do horticultor resultam em melhorias:

"Um grão de trigo, quando cultivado pelo fazendeiro, renderá toda uma colheita, e uma semente, pelos cuidados do jardineiro, crescerá em uma grande árvore."

"Privadas de cultivo, as encostas das montanhas seriam selvas e florestas sem árvores frutíferas. Os jardins produzem frutos e flores em proporção ao cuidado e cultivo que o jardineiro lhes dá."

Abdu'l-Bahá, filho de Bahá'u'lláh, o Fundador da Fé Bahá'í, escreveu em 1912:

"Os métodos agrícolas dos antigos bastariam no século vinte? O transporte nas eras anteriores era restrito ao transporte por animais. Como ele supriria as necessidades humanas hoje? Se os meios de transporte não tivessem sido transformados, os abundantes milhões agora sobre a terra morreriam de fome ... Como grandes cidades como Londres e Nova York poderiam subsistir se dependessem de antigos meios de transporte? "

Os métodos da agricultura devem progredir, como qualquer outra ciência, à medida que o conhecimento aumenta, mas as práticas ainda devem funcionar em harmonia com a natureza e os sistemas ecológicos:

"Em todos os assuntos, a moderação é desejável. Se uma coisa for levada a excessos, será uma fonte de mal."


A base da boa saúde

Os bahá'ís acreditam que a causa imediata da doença é um desequilíbrio nas substâncias componentes do corpo, o que permite que a doença se instale. A cura é, portanto, possível comendo os alimentos corretos a fim de restabelecer o equilíbrio. Conclui-se também que os alimentos precisam ser puros, saudáveis ​​e equilibrados em primeiro lugar para não introduzir doenças ou permitir que elas se desenvolvam. Isso significa que os métodos de agricultura são de importância crucial. Tendo em mente a citação acima sobre moderação, os agricultores que se afastam muito dos processos naturais podendo causar efeitos colaterais indesejados. Por exemplo, a produção de novas estirpes de plantas por modificação genética ou por melhoramento seletivo, embora ganhe algumas vantagens a curto prazo, pode perder outras qualidades ou elementos nutritivos que são mais importantes a longo prazo.

Algumas outras causas de preocupação podem ser o uso regular de fertilizantes químicos ou pesticidas, a alimentação do gado com produtos que não fariam naturalmente parte de sua dieta e o uso rotineiro de antibióticos para o gado.

 

Bondade para com os animais

Embora os bahá'ís não sejam proibidos de comer carne, a bondade para com os animais é muito enfatizada:

"... não são apenas seus semelhantes que os amados de Deus devem tratar com misericórdia e compaixão, mas devem mostrar a maior bondade amorosa para com cada criatura vivente."

Isso impediria práticas como criação em bateria, criação de vitela e outros métodos intensivos que causam sofrimento ao gado.

Além disso, os escritos Bahá'ís afirmam que:

“A comida do futuro serão frutas e grãos. Chegará o tempo em que a carne não será mais comida” nosso alimento natural é aquele que cresce da terra. As pessoas irão gradualmente se desenvolver até a condição deste alimento natural."

Portanto, os bahá'ís esperam que a agricultura mude gradualmente para somente agricultura arável, usando muito menos terra do que a pecuária para fornecer a mesma quantidade de alimento.

 

Segurança financeira

Um problema subjacente à economia agrícola é a mudança contínua na sorte dos agricultores, dependendo das forças do mercado, clima e outros fatores. Para ajudar a lidar com esta situação, as escrituras Bahá'ís especificam um fundo para a aldeia, conhecido como armazém. Este é um modelo baseado em uma comunidade agrícola de aldeia, mas os princípios também podem ser estendidos a cidades e vilas:

"Para resolver este problema, devemos começar com o fazendeiro ... Em cada aldeia deve ser estabelecido um armazém geral que terá uma série de receitas ..."

A maior parte das receitas é baseada no uso da terra. Um é um imposto gradativo sobre os agricultores que têm lucro, outro é uma porcentagem dos lucros do trabalho de mineração ou extração. Aqueles que não trabalham na terra também pagarão uma porcentagem de sua renda excedente. Os curadores locais pagarão com esse depósito para os necessitados, incluindo fazendeiros durante os anos de vacas magras.

Em essência, esse depósito financeiro é muito diferente dos arranjos atuais. É um sistema permanente e local que enfatiza a importância fundamental de uma economia agrícola de sucesso.

Este sistema também operará em nível regional e nacional. Qualquer excedente do depósito local seria enviado para um fundo central, para uso em áreas menos afortunadas. Da mesma forma, a área local receberia ajuda desse fundo central, caso fosse necessário.

 

O futuro

"Esforce-se tanto quanto possível para se tornar proficiente na ciência da agricultura."

Os bahá'ís acreditam que a agricultura é de suma importância. Seus efeitos na saúde da população, no meio ambiente e na economia de uma área são incomensuráveis. Como todo empreendimento humano, ele deve ser perseguido com elevados valores éticos, como um serviço à humanidade. Os agricultores merecem respeito, ajuda e orientação científica sobre a melhor maneira de produzir alimentos saudáveis ​​ou safras comerciais benéficas para o mercado.

Os bahá'ís preveem um futuro em que a paisagem terá mudado à medida que muito menos animais são criados, a manutenção de um ambiente equilibrado e saudável é fundamental, a economia da agricultura é dominada e a população em geral desfruta de uma saúde muito melhor.